O homem não é um balão que sobe ao céu nem uma toupeira que vive unicamente cavando na terra, mas antes algo semelhante a uma árvore, cujas raízes se alimentam da terra enquanto os ramos mais altos parecem subir quase até as estrelas. — G. K. CHESTERTON
Faz muito tempo que sinto um certo desconforto que gostaria de compartilhar com você. Por cargas d’água que não me cabe explicar neste primeiro momento, mas que mesmo correndo o risco de ser simplista em minha afirmação, me parece que há polarização onde fé e razão parecem repelir-se constantemente quando é a mente e a conduta cristã. Como se uma matasse a outra, ou ambas vivessem em constante conflito. Por um lado, os mais “espirituais”, porque não dizer “espirituosos”, acha que tudo resolve-se espontaneamente, conforme a vontade de Deus como se Ele fosse parte de um eterno conflito maniqueísta. Do outro lado, os mais eruditos nas escrituras, firmados na letra, acreditam que tudo resolve-se por uma interpretação lógica das escrituras, sob o manto de uma fé árida e que não sabe lidar muito bem com as nossas emoções.
Em meio a minha crise, foi no capítulo primeiro do livro inteligência humilhada, do pastor dr. Jonas Madureira, que consegui compreender com mais clareza a resposta ao meu desconforto espiritual, teológico e pastoral. Aliás, um livro que recomendo fortemente a todo o cristão.
O primeiro capítulo cujo título chama-se fideísmo ou racionalismo define o fideístas aqueles que negam qualquer evidência de fundamento, racionalidade, ou argumentação lógica da fé; ou do conhecimento de Deus. Para eles, a vida é composta por saltos de fé, por simplesmente deixar que Deus resolva do seu jeito.
“O fideísta é, portanto, aquele que defende o ponto de vista de que a fé é suficiente para garantir ou avalizar o conhecimento de Deus. Em suma, deixa-se de lado a razão e prioriza-se a fé.” Madureira, Jonas. Inteligência humilhada.
No outro polo há os racionalistas, ou seja, aqueles cristãos que precisam sempre evidências lógicas para crer em Deus. Delimitam a ação de Deus, a contemporaneidade dos dons, ao conhecimento das letras. Foi contra esse pensamento fundamentalista que Paulo se levantou ao falar que o Espírito vivifica, mas a letra mata.
Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. 2 Coríntios 3:6
Convém citar que Paulo não está fazendo uma apologia ao pensamento fideísta, mas deixando claro o perigo de ficarmos presos somente a legalidade das letras. Deus é suprarracional e apesar das escrituras terem tudo o que precisamos saber a seu respeito, não explica ele sobre em sua totalidade. Aliás, assim como aconteceu com Jó, muitas vezes somos desafiados a somente crer quando não há mais respostas para as nossas perguntas. Essa paz só é encontrada na paz que excede todo o entendimento que somente Jesus pode nos dar.
Para Jonas, a inteligência humilhada é a resposta para essa luta cósmica da fé evangélica gospel. Acabei concordando com ele em gênero, número e grau. Ela não é o sacrifício nem da fé pela razão, ou vice-versa.
A inteligência humilhada é a fé que não tem medo de pensar, duvidar ou questionar. A fé não precisa morrer, só precisa pensar. Uma fé assim percebe a racionalidade e a ordem divina nas coisas criadas sem, de forma alguma, anular-se ou destruir-se. É possível ser piedoso e, ao mesmo tempo, inteligente! Madureira, Jonas. Inteligência humilhada.
A razão não precisa morrer para que haja uma vida espiritualizada, ela precisa estudar de joelhos dobrados. Ela precisa estar sujeita a Deus e não deve envergonhar-se de errar diante da sua soberana vontade, pois precisa conduzir dependência pela dele. Para Jonas, não pe a razão que faz o cristão piedoso (ou uma pessoa de fé e oração), mas a gratidão. Esta, para mim, Cláudio, é o resultado da confiança cada vez mais profunda na providência divina. O cristão precisa de intelecção profunda, praticada em sua vida. Essa o levará a orações mais profundas, pois elas serão o resultado da ampliação de sua mente.
Assim como há pastores monotemáticos, há cristãos com orações monotemáticas. Só conversam com Deus pelo mesmo viés, como crianças que alimentadas por leite espiritual a todo o tempo. As escrituras nos advertem sobre isso:
Quem se alimenta de leite ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal. Hebreus 5:13,14
Enfim, gostaria de me aprofundar mais sobre isso, mas falta nos tempo. Espero que tenha o suficiente para compreendermos com mais clareza a respeito da nossa fé e querer inclusive ler este livro maravilhoso!
A inteligência humilhada conforme Cherteston (citado no primeiro capítulo) não é uma espiritualidade balão que só fica com a mente nas alturas, ou toupeira que cava e se perde nas profundezas da letra; mas uma árvore com suas raízes na terra e seus galhos, folhas e frutos sobem cada vez mais alto rumo as estrelas.
1 Comentário
Que a paz do senhor esteja com todos nóz, que o evangelho de reino de Deus possa ser pregado em tudo mundo.