Antigamente levava-se dez anos aproximadamente para uma nova tecnologia impactar o comportamento de uma cultura. Atualmente especialistas afirmam que três anos são suficientes para isso. A verdade é que estamos em um sensível período de transformação no comportamento social também ocasionado pelo evento das novas tecnologias.
Entretanto, o que é sinal de inovação e oportunidade, pode vir a ser um perigo tremendo também o que exige cuidado de todos nós. Eu quero ressaltar dois deles: Primeiramente, uma a forma como temos convivido com as pessoas. Antigamente tínhamos por hábito social frequentar lugares públicos mais vezes na semana e ainda que em filas de bancos, convivíamos com pessoas e nos relacionávamos por elas mesmo que fosse para reclamar dos políticos do nosso país ou da demora da fila. O que fazemos atualmente é reclamar pelas redes sociais na esperança de sermos ouvidos por alguém. Além disso, nós resolvemos quase tudo através de plataformas digitais, aplicativos de celular e outros recursos digitais. Temos perdido o bom hábito social do convívio com pessoas.
Um segundo problema que vejo é a perda de identidade da vida privada. Enquanto a um século atrás as nossas casas tinham grandes salas de convívio com mesas enormes, hoje um dos maiores sucessos imobiliários de São Paulo Capital foi a venda de apartamento de 19 metros quadrados. Paramos de convidar parentes e amigos para nossas casas para longas horas de risadas e refeições ao redor da mesa. Quando convidamos alguém para nossa casa, convidamos essa pessoa para participar da nossa identidade. Ela tem acesso a nossa intimidade e se aproxima das sombras da nossa vida também.
Por outro lado, movidos pela necessidade de sermos sociais como humanos, apelamos para o convívio social. A nossa cultura tem se sentido a vontade em coworkings, garage bands, pequenos eventos intimistas, sem muita plateia em lugares ermos para sustentar a necessidade de vivermos socialmente juntos. O problema deste movimento é que na maior parte das vezes nos acolhemos socialmente, mas não damos as pessoas acesso a nossa intimidade, nos isolamos, nos sentimos sozinhos e consequentemente temos um modo de vida solitário e triste.
Jesus sabia que na intimidade da casa que acontecem as ações transformadoras mais profundas de nossas vidas. Foi crendo nisso que ele certa vez disse a um homem chamado Zaqueu:
Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: “Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje”. Lucas 19:5
E foi naquele dia, sentado a volta da mesa, que Zaqueu foi transformado por Jesus.
‘Jesus lhe disse: “Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão.’ Lucas 19:9
Quando convidamos Jesus para a intimidade de nosso lar, somos transformados pela sua presença acolhedora.
Atualmente a encarnação de Jesus é a sua igreja e infelizmente ela tem usado seus ambientes de encontro e culto como coworkings espirituais. Nos reunimos socialmente, fazemos colegas espirituais em busca de suprir nossa necessidade de nos relacionarmos, mas temos a intimidade de convivermos na casa uns dos outros.
A igreja curava-se na casa. Quando Pedro foi liberto da prisão por um anjo foi para casa de Maria, mãe de João Marcos para contar o que lhes havia acontecido e achou ali a igreja reunida na intimidade daquele lar.
Percebendo isso, ele se dirigiu à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muita gente se havia reunido e estava orando. Atos 12:12
Atualmente, em uma cultura onde acolhimento é uma das palavras chaves para restauração de nosso humanidade perdida, a igreja de Cristo precisa novamente abrir a intimidade de sua casa para curar-se. Esta semana estive em uma reunião e um jovem cristão, líder em nossa igreja falou algo que impactou meu coração: – Estamos vivendo a zona de conforto dos nosso problemas e convivido como igreja assim como convivem colegas de trabalho.
Particularmente, acho que temos sido cristãos entristecidos porque temos sido cristão sociais, ou nominais, sem intimidade com Jesus dentro de nossa casa e sem a intimidade da igreja em nosso lar. Consequentemente nos reunimos em nossos coworkings espirituais buscando redenção para a nossa humanidade solitária.
Jesus curava o coração das pessoas na intimidade de suas casas, a igreja cura a igreja na intimidade de nossos lares. Aos domingos, ela se reúne para aprender sobre Jesus e celebrar a vida com Deus. Juntos damos suporte uns aos outros na jornada espiritual da vida cristã.